quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vênus e suas Peles



I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears


"Venus in Furs" é uma das minhas músicas favoritas do Velvet Underground, que é uma das minhas bandas favoritas. Já ocupou o topo do meu iTunes, com umas 80 execuções. Me faz pensar em uma sala decorada em estilo oriental ou marroquino, colorida e atemporal; onde lenços cobrem abajures; e pessoas lânguidas, com olhos pesadamente pintados, circulam em câmera lenta em ambientes enfumaçados por incensos e narguilés.

Não consigo mais dizer se essa imagem tem alguma influência de "Velvet Goldmine" (1998), filme que está ficando velho o suficiente para querer ser clássico. Ewan McGregor, Christian Bale, Jonathan Rhys-Meyers e Toni Colette romanceiam o "sexo, drogas e glam rock 'n' roll" dos anos 70, em uma quase-biografia de David Bowie, Lou Reed (do Velvet Underground) e Iggy Pop.

No filme, a banda de apoio de Brian Slade, personagem de Rhys Meyers, se chama Venus in Furs. O título se refere a uma obra de Leopold von Sacher-Masoch, o (de novo) quase (auto-)biográfico "A Vênus das Peles", que narra as confissões de submissão e escravidão sexual do nobre Severin a sua dominatrix, com quem mantém (óbvio) uma relação de dependência e obsessão, poder e êxtase.

Ironicamente, Severin é o nome da dominatrix de "Shortbus" (trailer aqui), "um dos filmes mais pornográficos já feitos - fora da indústria pornográfica". John Cameron Mitchell, que em "Hedwig and the Angry Inch" (veja aqui e aqui também) já tinha trabalhado os limites do desejo como força-motriz, com resultados às vezes até mais extremos, comandou um processo de oficinas em torno do tema "amor e sexo" durante 2 anos em Nova York até chegar a um filme em que vemos, na primeira cena, um ator tentando chupar o próprio pau (conseguirá?), numa cena sem cortes (ai!). A propósito, a trilha é linda, puxada por "Boys of Melody", da banda canadense Hidden Cameras.

Em minhas anotações, acho uma frase de outra relação de desigualdade: Bibi Anderson, como a Irmã Alma de "Persona", de Bergman, diz a Elisabeth: "Nunca fui real para ele. Mas a minha dor era real, com certeza".

A dor. Agora vejo que era ela que estava à espreita desde o começo. E abre a porta, um obstáculo até a saída, um perfil de sombra contra a luz forte. Quando sabemos de onde ela vem, ou quando a buscamos e desejamos, dói menos? E quando quem a chamou diz a hora em que ela deve partir - quem é que está no controle? E quando a dor já vai partir - qual o objeto direto desta ação? O que ficará intacto quando ela se for?

Há sempre algo que precisa ser arrancado a tapa de dentro de cada um de nós - para a superfície ou para fora.

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